Depoimento.
Estar em sala de aula é um desafio, que proponho a mim mesma todos os dias. Todos os dias digo a mim mesma que vale a pena tentar fazer algo diferente, embora muitas vezes sinta-me impotente frente a tantos problemas que adentram a sala de aula. Procuro manter sempre a calma, para não criar algum conflito desnecessário e com o qual eu não saberia lhe dar.
Ser professor neste século tem sido uma tarefa árdua para muitos, para uns é por conta do baixo salário se comparado a outros profissionais, para outros a falta de estimulo dos alunos, a violência que anda entre nós feito um fantasma assombrador. Procuro não ver os fantasmas e manter um relacionamento com os meus alunos, baseado em confiança, pois creio que se tiver a confiança deles, os mesmos poderão pedir-me ajuda quando necessário. Não ficarão constrangidos ou amedrontados.
Quando soube que a entrevista seria feita comigo, confesso que fiquei meia sem chão. Estaria em uma posição diferente da de regente de classe, até tentei persuadir as alunas a fazerem a entrevista com outra pessoa, não deu certo. As perguntas eram baseadas no cotidiano e no relacionamento professor X aluno, um tema muito discutido em seminários e congressos de educação.
Em um tempo que a polícia precisa fazer o papel de escola e família, e buscar os filhos que cabulam as aulas e trazê-los de volta a sala de aula, o que mais poderá acontecer? Temos tanto profissionais quanto alunos desmotivados, cada com seus próprios motivos, cada um com os próprios problemas. Não cabe agora, portanto ficar questionando de quem é a culpa do quase falecimento da educação. Não adianta dizer que no passado era melhor, que o professor era mais isso e mais aquilo, que o aluno era mais dócil e amoroso, que se importava com os estudos.
Estamos em meio a uma selva e como Tarzan tentamos em vão cumprir um papel que já não é mais nosso. Educar requer amor, e a escola sozinha não é capaz de amar ninguém, ela também precisa ser olhada com amor, precisa ser amada e respeitada. O aluno é sim, o motivo maior da nossa existência, mas não há como fechar os olhos e fingir que tudo vai bem e colocar em outra pessoa a culpa. Somos sim, culpados como escola de não termos sido competentes o bastante para gritar um BASTA.
Basta. Não estamos preparados para tudo isso. Já não podemos ser babá, médico, psicólogo, enfermeiro, conselheiro sentimental etc. Queremos apenas ser escola e se possível, sentar ao lado do nosso aluno e ajudá-lo a compreender a grandiosidade de ser um cidadão consciente de suas obrigações.
Valdinéia França - Professora